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Channel: Genética - Mayana Zatz - VEJA.com » Sem categoria
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Ciência sem fronteiras: porque o sucesso depende de importações sem fronteiras

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Há anos estamos batalhando para melhorar e agilizar as importações para insumos de pesquisas. Já tivemos avanços significativos, mas ainda estamos longe do ideal praticado nos países do primeiro mundo e com os quais queremos interagir cada vez. Nesse sentido, o programa CIÊNCIA SEM FRONTEIRAS, uma iniciativa apoiada pela presidente Dilma, merece ser aplaudida. No dia 1 de agosto escrevi  a respeito. Mas para darmos um salto qualitativo e podermos pesquisar nas mesmas condições que os cientistas do primeiro mundo precisamos destravar as importações de insumos para pesquisas. Vou tentar fazer um paralelo.

Imagine que você queira inventar uma receita nova de bolo

Você junta todos os ingredientes, compra o que estiver faltando e vai para a cozinha. Logo saberá se o resultado foi um sucesso, se um ou outro ingrediente deve ser substituído ou se a receita toda merece ir para o lixo. Agora imagine que você tenha que aguardar três meses para conseguir os ingredientes. Ás vezes, falta só um tempero específico que é essencial para aquela receita. Quando ele chega, os outros que você tinha em casa já  estragaram. E você tem que comprar tudo de novo gerando um enorme desperdício. Se a receita for um sucesso pode ter valido a pena esperar, sempre com o risco de que outra pessoa que tem acesso imediato aos ingredientes já tenha tido a mesma ideia e a possibilidade de testá-la antes de você. Há ainda a possibilidade de a receita não prestar e você desperdiçou um tempo enorme para chegar a essa conclusão, um tempo que poderia ter sido usado para testar novas ideias. É por isso que lutamos para poder realizar as nossas pesquisas no Brasil. Algo que pode acontecer desde que haja vontade política.

Podemos fazer muito mais com menos

Há algum tempo endereçamos um documento — assinado pelo também geneticista Miguel Mitne-Neto e por mim —  relatando essas dificuldades  ao deputado federal Romário, que juntamente com a deputada Mara Gabrilli, resolveu abraçar essa causa. Sorte nossa. Esse documento levou a um projeto de lei (4411/2012) que foi submetido por esses deputados em setembro de 2012 . O pontapé inicial desse grande jogador de futebol era o que precisávamos. Ele demonstrou que poderia fazer muito mais pelo nosso país do que ser só  um grande esportista. Se a lei for aprovada poderemos ter  inúmeros gols da ciência brasileira. A partir daí começou uma grande mobilização da comunidade científica e das entidades de pacientes para implementar uma lei que nos permita importar material de pesquisas sem burocracia ou demoras, do mesmo modo que se importam livros. Vou repetir a receita que proponho, descrita na minha coluna de 10 de agosto e que é muito simples .

1) Todos os pesquisadores brasileiros nas universidades ou institutos de pesquisas estão cadastrados no sistema Lattes do CNPq, uma plataforma excelente. Basta colocar o nome e aparece a sua biografia científica e linhas de pesquisa.

2) Com raras exceções, os reagentes necessários para as pesquisas são conhecidos, catalogados e já aprovados por agências reguladoras nacionais e internacionais. Bastaria ter uma lista de todos eles em bancos de dados acessíveis para qualquer pesquisador, via internet.

3) As agências financiadoras ao apoiar e destinar recursos aos projetos de pesquisas alocam um certo montante para material importado. Porque não vincular esse valor a um cartão de crédito com o nome do pesquisador responsável no mesmo limite aprovado para pesquisa?

Como seria na prática o programa?

Toda vez que um pesquisador – já cadastrado – precisasse de um reagente bastaria colocar o nome do produto e solicitar sua importação. O programa Importação sem Fronteiras localizaria o código do material, o fabricante e deduziria o valor do total de verbas de importação do pesquisador. E o melhor de tudo. O produto poderia ser entregue diretamente ao pesquisador pelo fabricante, no seu laboratório, sem ter que passar por alfândega, despachante e outros entraves burocráticos. Do mesmo modo que se importam livros.

Se você estiver de acordo, apoie essa iniciativa . Assine o manifesto aqui

No momento que escrevi essa coluna já tínhamos mais de 11.000 assinaturas . Quanto maior o número maior a chance de aprovarmos essa lei e de contribuir para a melhoria da ciência brasileira.

Vou aproveitar para me despedir de vocês queridos leitores.

Foram cinco anos fantásticos, escrevendo em VEJA.com, dialogando com vocês, tentando traduzir os jargões científicos numa linguagem mais acessível. Entretanto, outros compromissos me aguardam. Continuarei a mandar mensagens pelo twitter (twitter.com/mayanazatz ) e a escrever no site do genoma (http: genoma.ib.usp.br). Aguardo vocês lá.

 


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